No outro dia, num daqueles compromissos sociais que fazem parte da obrigação deste meu trabalho que também é o blog, cruzei-me com alguém que, referindo-se à perda do meu Pai, me perguntava (para não dizer "afirmava") com aqueles sorrisos que mostram a dentadura toda, se eu ja tinha ultrapassado tudo isto. Eu já não ia com boa cara, é um facto, mas fiquei sem reacção e não consegui dar a resposta que queria por uma questão de educação. Quando entrei no meu carro, voltei a pensar no episódio triste e aí sim soltei uma gargalhada. As pessoas são ridículas. Vivem focadas no seu próprio umbigo, só pensam em si quase 24horas por dia. Nunca ou quase nunca tentam sequer colocar-se no lugar do outro, daquele que poderá estar a passar uma fase menos boa. Pensam hoje "coitada dela" e amanhã já dizem "mas ela continua neste drama?".
Sim, porque perder-se um Pai é coisa para nos passar em um mês, quem sabe, mais coisa menos coisa. Eu perdi o meu Pai, o homem que mais admirava na vida e desculpem se ainda não consegui voltar a ser a pessoa que era. E sabem que mais? Nem esperem que isso aconteça porque, depois de me terem tirado o chão, é impossível eu conseguir voltar a ser a mesma pessoa.
Em conversa com a minha Mãe, dizia-me ela que nem sempre as pessoas que achamos importantes na nossa vida estão a nosso lado quando mais precisamos. No dia em que perdi o meu Pai, tive muitas pessoas a meu lado. Pessoas que foram e continuam a ser o meu porto de abrigo nos dias mais duros. Mas tive também pessoas que durante a doença do meu Pai pouco ou nada quiseram saber de mim, se eu precisava de algo, de uma palavra de conforto, por exemplo. Aquilo que mais ouvi no dia mais triste da minha vida, foi que eu iria precisar sim de ajuda, de carinho e companhia, no depois. Naquele momento em que nos cai a ficha e começamos efectivamente a perceber aquilo que acabou de acontecer. Tanto no dia do velório ou do funeral eu senti-me praticamente anestesiada. Entre abraços dos meus, lágrimas e um cansaço emocional muito grande eu não conseguia pensar de forma crua. Sentia-me a sonhar. Lembro-me de ter visto a minha Mãe abraçar amigas minhas e pedir-lhes que olhassem por mim. E isso emocionou-me profundamente. Dois meses depois, há muitos dias em que continuo a sentir-me anestesiada. Muitos dias em que choro logo ao acordar e em que não me sinto capaz de enfrentar o mundo lá fora.
Dois meses depois tenho pessoas que nunca mais me ligaram para saber como é que eu estava. Que não fizeram qualquer esforço para encaixar um momento comigo nas suas agendas. Já dizia alguém muito querido, que estes momentos maus nos mostram quem é de verdade nas nossas vidas. E que só esses importa manter e agradecer por estarem connosco. Por se preocuparem com o nosso bem estar.
Penso apenas, e cada vez mais, que existem coisas que só mesmo quem passa sabe o que significa e a verdadeira dimensão dessa dor.
Dois meses depois, continuo a olhar para o Tmv e ver o número do meu Pai no ecrã, com uma foto que ilustra um abraço tão bonito que ele me deu no dia do meu casamento.
Dois meses depois continuo a sentir uma revolta imensa dentro de mim, continuo a não ser capaz de aceitar e pior, não sei como viver esta nova realidade a que tenho de chamar vida.
Continuo a sentir-me perdida. Continuo a acordar e desejar que tudo seja apenas um sonho mau.
A saudade é tão forte que me magoa o peito. Fecho os olhos e relembro o meu Pai sentado no seu cadeirão, a ver um jogo de futebol qualquer, aproximo-me e beijo-lhe a testa, como fazia sempre.
Pai, esteja onde estiver, perdoe-me se não tenho conseguido ser a menina que soltava gargalhadas por tudo e por nada. Ou aquela que amuava e fazia "umas trombas de elefante" quando o Pai se metia comigo e eu não achava tanta piada.
Onde quer que esteja, receba o meu beijo e o meu abraço com uma saudade imensa.
Da sua filha,
Maria André.
Chorei ao ler! Tão meu! Como eu senti este teu testemunho tão meu. 💖💖💖
ResponderExcluirMIA
ResponderExcluirSabe o seu pai está e estará sempre ao seu lado, sei que a saudade e a dor é imensa!
Um grande beijinho para si
Há pessoas realmente que nem vale a pena ouvir Mia, de tão ridiculas que são. Também passei por uma situação muito complicada há pouco tempo, por isso compreendo perfeitamente o que tu dizes. Embora tenha tido sempre um apoio enorme, também tive grandes desilusões e acabei por perceber que há supostos amigos que não valem mesmo a pena manter. Temos de nos agarrar a quem verdadeiramente está lá sempre connosco e o resto é deixar ir.
ResponderExcluirNo meio disto tudo só te quero deixar um grande beijinho e muita força para ti e para a tua família. Os teus leitores estão deste lado a enviar energia positiva =) =) **
Não consigo imaginar a tua dor, porque ainda não passei por isso. Mas há dias bons, em que se consegue sorrir, e ir levando a vida que continua a correr ao seu ritmo, e há dias que apetece chorar, e soltar toda a revolta.
ResponderExcluirNinguém sabe o que vai dentro de cada um, e infelizmente, as pessoas adora julgar, ou porque se ri, ou porque se lamenta.
O importante é estar-se rodeado de quem nos ama, e ajuda nos momentos mais difíceis.
Como costumo dizer, é nos momentos difíceis e tristes que sabemos com quem podemos contar.
Acima de tudo força, rodeia-te de quem mais te ama, e a vida vai aligeirando a dor, e começas a saber a aprender a viver com ela.
Beijo muito grande e força.
Beijo no coração Mia ❤️
ResponderExcluirNão consigo imaginar....o meu pai é a minha vida!!!!!! é tudo!!!! por isso, uma ABRAÇO GIGANTE DO TAMANHO DO MUNDO PARA TI, COM MUITO CARINHO
ResponderExcluirSei o que sente, e ainda vai ter esse sentimento por algum tempo. Somos todos diferentes, e encaramos a dor cada um à sua maneira. Eu senti que necessitava de fazer o meu luto, resguardar-me e descansar de um período muito duro da doença do meu pai.
ResponderExcluirRespeito que haja pessoas que não gostem de funerais e velórios, mas tal como a Mia, senti a falta de alguns lá nesse dia. Triste alguns "amigos" só estarem prontos para as festas...
Não vai passar Mia, vai atenuar..., vão existir dias melhores outros mais duros. Passados quase três anos ainda não tirei o contato dele do telemóvel.
Beijinho,
Susana