Dizem que as pessoas não pertencem umas às outras mas quando amam pertencem a quem amam e não há nada a fazer e é assim que está certo porque é a única maneira, não estando disponível uma maneira errada.
Não pertencer a quem se ama é impossível. A liberdade é uma coisa muito bonita mas o amor não só é mais bonito como mais feio, bruto e forte. O amor manda em quem ama e faz-nos fazer coisas más, injustas e inexplicáveis.
A única liberdade do amor é poder amar quem se ama, que não é liberdade nenhuma. Não se pode escolher amar. Não se pode escolher quem se ama.
Quando se tem muita sorte, a pessoa amada dá-nos a liberdade de amá-la e estar com ela ao mesmo tempo. A pessoa amada pode não nos amar mas deixa-nos amá-la fisicamente. Deixa-nos mostrar-lhe que a amamos.
Deixa-nos dizer que a amamos. E, quando se ama, isto, que pode parecer pouco a quem não ama, é a segunda melhor coisa do mundo, sendo a melhor coisa do mundo ser amado por quem se ama.
Não pertencer a quem se ama é impossível. A liberdade é uma coisa muito bonita mas o amor não só é mais bonito como mais feio, bruto e forte. O amor manda em quem ama e faz-nos fazer coisas más, injustas e inexplicáveis.
A única liberdade do amor é poder amar quem se ama, que não é liberdade nenhuma. Não se pode escolher amar. Não se pode escolher quem se ama.
Quando se tem muita sorte, a pessoa amada dá-nos a liberdade de amá-la e estar com ela ao mesmo tempo. A pessoa amada pode não nos amar mas deixa-nos amá-la fisicamente. Deixa-nos mostrar-lhe que a amamos.
Deixa-nos dizer que a amamos. E, quando se ama, isto, que pode parecer pouco a quem não ama, é a segunda melhor coisa do mundo, sendo a melhor coisa do mundo ser amado por quem se ama.
Ser amado por quem se ama é a melhor coisa do mundo. Mesmo quem nunca foi amado, mas ama, desconfia, com razão, que isto seja verdade. Só quem nunca amou — mesmo sendo ou tendo sido amado — é que desconfia, sem razão, que há coisas melhores no mundo do que ser amado por quem se ama.
Deveria ser muito mais raro ser-se amado por quem se ama. Há tanta gente no mundo. Só por uma extraordinária coincidência é que duas pessoas diferentes, podendo cada uma amar qualquer uma das milhares de pessoas que conhece, calham amar-se uma à outra.
Porque será? Porque é que nem toda a gente tem azar no amor? Porque é que há uma mais do que pequena percentagem de amores correspondidos?
Mas atenção: pode ser que não haja um único amor correspondido. Amar impede-nos de ter a certeza de sermos amados pela pessoa que amamos.
Eu amo a Maria João e há alturas em que eu sinto ser amado por ela.
Estas são as alturas mais felizes da minha vida.
Mas, mesmo nessas alturas, tenho sempre consciência — não, a palavra certa é medo de poder estar a ser enganado. O mais provavelmente por mim próprio. Acontece. Mas não me importo. A mais leve impressão da certeza de ser amado é tão doce que a vida parece ter sido feita, toda ela desde o dia em que nascemos até àquele momento, toda a vida feita só para termos aquela impressão, tão doce, de se ser amado pela pessoa que tanto se ama.
Vive-se feliz, muito bem, nos intervalos entre estas doces impressões, mesmo quando se passam meses inteiros.
As saudades das vezes em que tivemos essas doces impressões são duras porque é raro ter a esperança suficiente para acreditar que se voltará a ter, mais uma vez, a impressão de se ser amado pela pessoa que se ama.
Mas basta uma impressão para durar a vida inteira. Basta uma só para saber a sorte imensa que temos.
O normal é não amar ou amar e nunca ser amado por quem se ama. Já é uma grande sorte poder amar quem se ama mesmo tendo a certeza de não ser amado por ela.
É por isso que é tão doce e rara a impressão de ser amado por quem se ama. É por isso que também é doce a dúvida da pessoa amada. Pensar que ela, se calhar, não nos ama é doce por não se ter a certeza de não ser amado por ela.
É doce a dúvida porque a dúvida inclui, de graça, o pensamento “tudo o que ela faz e diz leva-me a crer que ela não me ama mas pode ser — eu sei lá — que, dalguma estranha e perversa maneira, isso seja uma maneira que ela tem de amar-me...”
Por muitos anos que passem, nunca diminui a força da surpresa de pensar que talvez a Maria João me ame. Por muitos anos que passem, nunca pedi nem recebi um único momento de sossego ou de certeza. A insegurança é tão permanente como o amor. Quem ama não precisa da segurança para nada.
A mim já me chega e sobra e me enche de alegria a suspeita que ela, devido a qualquer imperfeição cognitiva, deixou-se convencer que gosta de mim. Por muito erradamente, não me interessa. Nem sei por quanto tempo, não me interessa.
Que ela pense, erradamente, que gosta de mim, já me chega e enche de alegria. E é sublime ter, de vez em quando, a impressão que ela me ama.
Ser amado por quem se ama é a melhor coisa do mundo. Se é que isso existe ou é possível. Eu duvido. Mas eu posso duvidar. Eu amo-a.
MEC
♥
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